No centro histórico de Munique, a igreja jesuíta de São Miguel — a Michaelskirche — ergue-se como um dos maiores símbolos arquitetônicos e espirituais da Contrarreforma na Alemanha. Construída entre 1583 e 1597, surge de uma iniciativa estratégica do duque Guilherme V da Baviera para reafirmar a primazia católica numa região então marcada pelo avanço protestante. Concebida como manifestação visível da resposta católica à Reforma, a Michaelskirche adota o modelo moderno e expansivo da Il Gesù — a igreja-matriz da Companhia de Jesus em Roma, considerada o protótipo da arquitetura contrarreformista —, revolucionando o espaço religioso com sua abóbada de berço monumental, ideal para celebrações litúrgicas majestosas e didáticas. Esse projeto expressa o esforço jesuíta em recuperar fiéis pela força da catequese visual e pela imponência do rito, articulando arte, arquitetura e pedagogia da fé — marcas distintivas da Contrarreforma. A fachada, ornamentada com figuras de santos e líderes da dinastia Wittelsbach — família nobre bávara que governou a Baviera ininterruptamente de 1180 a 1918 e desempenhou papel central na história política, religiosa e cultural da região —, traduz, em pedra, a mensagem de continuidade e resistência católica, enquanto, internamente, a ausência de colunas propicia ampla visibilidade do altar, ressaltando o eixo central da liturgia pós-Trento. Mais do que um espaço celebrativo, a Michaelskirche tornou-se sede de intensa atividade apologética e cultural, consolidando Munique como um bastião católico no Sacro Império Romano-Germânico e influenciando, por séculos, o panorama religioso e artístico do sul da Alemanha. Assim, a igreja de São Miguel não apenas testemunha a engenhosidade arquitetônica da época, mas permanece como um marco fundamental da luta católica pela renovação interior e pela afirmação pública da fé durante o turbulento período da Contrarreforma.